domingo, 1 de maio de 2011

O que você quer agora.




De alguns lados há ruínas, de outros lados há casas antigas, rodeados por extensos campos. Algumas imagens. O ônibus se movimenta velozmente, as vozes se repetem. E quando você escreve, você sabe, você sente; o que você mais precisa ainda está por vir. Somewhere over the rainbow.
E isso não é o que você quer agora. Contato que conta com instinto para virar adoração, não passa de ilusão. Você quer mente, você quer sentimento.

Itália / Toscana / 09-01-11


O refúgio dos poetas, parte 2


É nessas horas que você percebe que ainda está sozinha, mas diferentemente das outras vezes, você não sente que há alguém te esperando, para lá, além do oceano, pois é exatamente onde você está agora.
Você escuta o burburinho das pessoas animadas, gostaria que elas ficassem em silêncio, pois você sente falta dele, muita falta.
Todas as cores se transformam em matizes diferentes. Você não está tão cansado assim, nem tão perdido. Você costumava dizer que esses seriam os dias da sua vida, mas não passam de dias e da vida. Haverá uma luz no fim do túnel? Haverá salvação? Meu adorado... Onde se esconde?

Capri / Anacapri / 08-01-11

O refúgio dos poetas


Há uma colina verdejante, na verdade, uma grande montanha, no outro lado do horizonte. As casas, pequeninas, decoram a divisa entre o banco onde sento e o outro lado do mar. O mar Mediterrâneo. É estranho estar aqui, não é? Lugares antes tão distantes. E de repente você sente que as coisas não estão onde deveriam estar. Apesar de suas ousadas defesas, você sabe que as belas paisagens são apenas retratos vazios.

Mas o céu... É tão bonito...

Capri / Per Marina Piccola / 08-01-11

terça-feira, 22 de março de 2011

Pele e Osso


Nas paredes do quarto, dezenas de imagens. Planejava uma revolução, mas não detinha arma alguma. Ela viu seu mundo girar e desabar inúmeras vezes e, somente agora, pôde confessar que fora assim desde o início. Quando lobos vestiam-se de ovelha e trocavam de pele na frente de seus olhos. Ligou o gramofone e deixou que qualquer música do disco local invadisse o cômodo mal iluminado. Para sua surpresa, não se tratava de um desconhecido. Andou até o guarda-roupa e livrou-se de todas as peças numa tentativa frustrada de despir-se a alma. Cantarolou baixinho "deixe-me salvá-la, segure esta corda" mas, quando olhou ao redor, viu que ainda estava sozinha, não havia nenhum príncipe, tampouco um ogro, oferecendo-lhe redenção. Sentou no piso amadeirado, abraçando as próprias pernas e, fechando os olhos, desejou com tudo o que ainda havia em si que a mandassem de volta. Imaginou seu mundo e ele deveria ser azul, como a imensidão das águas que costumava adorar, como a profundidade de um olhar que sempre buscou. Porque ela também sabia que seu reino, seu rei, estava sozinho, esperando. E tudo o que ela desejava era retornar, pois sem eles sentia-se fraca demais para prosseguir. Ela precisava daquilo que nomeava de amor. Mas perdeu as esperanças de encontrá-lo naquele lugar. Precisava voltar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Crer

Há certas coisas que não devem ser ditas, há certas coisas que precisam ser mistérios. Porque ocultar-se é proteger-se ante a dor de uma confissão. Negar as lágrimas que sufocam, os vícios que desviam, os pensamentos mais banais. Negar o que se sabe e o que se desconhece. Não precisar existir para ser real. Não precisar tocar para sentir. Não precisar ver para...

É preciso crer para ver.
Uma vez mais.


*
Qu
ando
o cha
mado,
mudo,
chama,
o silêncio
se faz eterno,
mas quando as
vozes voltam a falar,
você respira, faz do chamado
uma
suposição.



Meu coração se esconde perto demais do seu.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Confesso...


Eu ainda estou esperando. Ainda estou procurando. Você partiu cedo demais, não foi? Eu não estava pronta - minto um pouco agora para aliviar a dor, pois eu nunca estaria pronta. Eu só queria ouvir sua voz outra vez... Sabe o que me destrói? É que eu não consigo se quer lembrar o timbre. Mas os seus olhos azuis, deles eu nunca esqueci. Ainda recordo aquela noite, quando todas as estrelas pareciam brilhar em nossa homenagem. O último valsar, a taça de vinho... Pedaços de vidro espalhados pelo chão. Eu senti a sua morte no mais profundo inverno de minh'alma, e de alguma forma sei que o frio ainda não passou. Posso vislumbrar seu cabelo escuro e liso contornando sua face cor de mármore, embora seus traços sejam imprecisos e suaves demais para serem mantidos por pouco além de alguns segundos. O que mais me falta, todavia, não são as suas feições sempre belas, e sim a força de seu espírito. Desejo compartilhar de seus pensamentos, desejo julgar suas filosofias vis e seus conceitos deturpados de felicidade. Quero engolir a sua alma e cuspi-la livre ao meu lado. Você entende, não entende? Eu ainda estou esperando. De alguma forma eu sei e de algum modo eu sempre soube. Sinto muito, acho que não pude suportar a certeza da sua ausência. Acho que ainda não posso. Nunca me ensinou a viver por mim mesma, de modo que não passo de um pálido reflexo de quem um dia eu fui ao seu lado. O grande problema é que somos partes fundamentais de um mesmo todo. Você tem o que me falta. Eu posso sobreviver, mas não faço mais do que isso sem você. Meu medo é que ao me deparar com todos os fantasmas - amados - de meu passado, eu perceba que não passam de lembranças vazias. Meu medo é não encontrá-lo aonde meus passos me guiam, aonde constantemente escuto seu chamado. Posso ser louca e delirante, sempre posso sê-lo, mas nenhuma falsa certeza me é mais sólida do que a certeza de que tudo o que sinto e sinto saber é real. Eu preciso de você todos os dias, não agüento mais conviver comigo e com minha solidão. Porque sou fraca demais para suportar sozinha, mas esperta o bastante para construir as mais poderosas defesas. E não importa quantos escudos usemos... Há sempre quem possa nos machucar. Às vezes eu penso se não estou sozinha aqui, se de certo modo não vivo um hiato entre nós dois, se não está somente a me observar, esperando em qualquer lugar para além. Sabemos que no fundo, abaixo de toda a couraça de mistérios e das palavras de fragilidade, eu sou mais forte do que deveria ser. É por isso que cogito essa hipótese, pois eu prosseguiria com o plano - com ou sem você. Mas a dor... A saudade... São as pequenas coisas que me consomem todos os dias. A falta de sentido. O vazio. Por favor, volte pra mim.

O Lago dos Cisnes, XIX.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Malditos Cigarros


Parte 2 - "Cigarettes"

[...] Disse simplesmente, recusando-se a lhe observar o rosto. Qualquer expressão, bela ou vetusta – esta última que ultrapassava em desprezo de seus conceitos a fealdade –, poderia fazê-lo mudar de idéia, mas deixar-se governar por impulsos de uma natureza tão duvidosa quanto os significados da flor que a desconhecida representava seria um erro inadmissível.

- Fale-me!

Ela bradou antes que dois passos fossem dados em seu oposto, impedindo-o, com o susto, de prosseguir pela alameda das ilusões – onde poderia livrar-se daquela presença com o mero gesto de quem sabe ignorar. Ele pressionou os dedos no punho fechado e parou, virando-se para ela e tomando-lhe o semblante com um curioso olhar. Era bela, decerto, e jovem, deveras, o que lhe causou o asco, pois imaginar era antes aceitável ao ato de tomar a certeza de que a influência daquela pessoa estava imposta terminantemente sobre suas reações.

- Não há nenhuma resposta que lhe possa ser dita sem que tu mesma já não a tenhas encontrado.

As palavras desencadeavam uma série de conclusões aleatórias nele. Não respondia a ela, mas a si, e com isso postou-se desejoso diante da respiração cálida e dos lábios rosados da moça de vestido azul. Afagou o maço de cigarros no bolso externo do paletó, uma espontânea vontade o seduzia, mas era necessário negá-la, do contrário os acontecimentos perderiam o sentido e o rumo das coisas culminaria no mais sórdido desfecho. Era sempre assim. Ele precisava lutar contra suas necessidades, precisava fingir para outros olhos o que não estava vendo – quando na verdade, era apenas o que poderia enxergar. Não existia beleza nas coisas puras, não existia pudor num ato de bondade. A beleza era um artifício que dispensava interpretações, deveria ser apenas admirada e nunca explicada, por isso as designações fugiam aos seus limites. Já o pudor residia somente na mente de quem observava e em mais nada.

- Eu suportaria teus abraços e até tua agressão. Meu orgulho me condena ao silêncio, mas meus sentimentos não cansam de dizer: não há nada tão danoso a uma alma quanto a indiferença de outra por ela estimada. Se vá, mas não me deixe.

As palavras que acabara de ouvir, ela sabia como ninguém os seus significados. Talvez por isso falasse como se há muito o conhecesse, insinuando acontecimentos que somente uma memória compartilhada podê-lo-ia mostrar.

[...]

 
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